A felicidade se manisfesta em diferentes formas. A forma que seja propícia á uns pode ser simples ou desnecessário para outros. E assim caminha a vida. Nem todos podem ser felizes. Afinal se tudo fosse perfeito não haveria mais motivação de vida no planeta.
Refletindo sobre o assunto que me veio Felicidade (1990), trama do horário das seis, escrita por Manoel Carlos que se baseou em alguns contos do escritor Aníbal Machado. Maneco (apelido conhecido do autor) sempre foi mestre em relatar o cotidiano das pessoas, indo fundo nas suas características. Bem diferente do estilo da maioria dos autores de novelas. Isso sempre me encantou. Escreveu tramas belíssimas. Felicidade é uma delas, que estava sendo reprisada no canal pago Viva até ontem.
Não vou mentir: assisti a novela pela reprise e comecei acompanhar da metade. Mas só bastou esses poucos meses para me envolver e se apaixonar por cada um daqueles personagens. Não só um simples apego de telespectador, mas verdadeiras lições de vida. Talvez porque no fundo todos nós tenhamos um pouco de cada personagem. A carência e o desejo de posse - Débora (Vivianne Pasmanter). Acomodação numa mentira, evitando grandes passos em sua vida pelo simples medo de ser feliz - Helena (Maitê Proença). A sabedoria - Dona Cândida (Laura Cardoso). Sonhar, sendo um meio de omitir sua própria realidade dura e cruel - Artaxerxes (Umberto Magnani). Abdicar de suas próprias necessidades por um bem coletivo - Amentista (Ariclê Perez). Ser impulsivo e original - Bia (Tatiane Gulart). Querer transformar a vida em arte - Zé Diogo (Marcos Winter). Sentir um apego emocional por um objeto sem importância - Seu João (Sebastião Vasconcelos). A bondade - Tuquinha (Maria Ceiça).
Analisando cada uma dessas características temos a formação de uma pessoa. É nesse fascínio de observa cada detalhe nosso explicito nesses personagens, é que está o encanto e a beleza das obras de Maneco.
Bia só queria saber quem era seu pai biológico. Não importava quem fosse, a felicidade estaria apenas na verdade. E pra quem vive na mentira, a verdade é o sonho perdido. Vidando isso, temos a importância da novela. E cena que ela descobre que Álvaro (Tony Ramos) é o pai que tanto procurou, é a síntese de tudo que foi dito. Onde a mãe manda a garota correndo a praça abraçar seu pai, e ao longo do caminho ver pessoas que cumpriram esse papel com o passar dos anos rapidamente, depois calmaria toma conta, e ela não ver mais nada em sua frente se não Álvaro. Sua verdade tanto procurada que agora vem a tona trazendo uma grande paz. E a novela está repleta dessas cenas belas. Minha história favorita é centrada em Seu João, um homem que é obrigado a se desfazer do seu querido piano de tantos anos, por falta de espaço, já que sua filha Selma (Ana Beatriz Nogueira) vai se casar e precisa do quarto. Em uma das cenas, Selma diz que o amor que pai pelo objeto é o mesmo que sente por ela. Ao final, Seu João decide jogar o piano no mar, e surpreende ao se atirar junto com ele. Em uma das cenas mais marcantes que eu já presenciei na teledramaturgia. Onde o silêncio mais uma vez toma conta. Ele que é astro de tantos momentos da trama, como outra cena marcante: o assassinato da porta-bandeira Tuquinha Batista pelo ex-namorado possessivo, Tide (Maurício Gonsalves). As palavras são desnecessárias em uma novela que as expressões dos atores falam tudo.

É claro que todos esses méritos se deve ao grande elenco. Ao começar pela revelação da época, um furacão chamado Viviane Pasmanter. Sua vilã Débora é grandiosa, e apesar de não ter feitos tantas atos de desastre como os maiores vilões de folhetim, a personagem assustava por sua presença forte e seu tom sombrio. A cada frase dita, já deixava os personagens e o telespectador apavorados. E acima de tudo, uma figura humana, que tinha seus medos e fraquezas expostos. Sua cena final é fantástica (assim como quase todas da personagem); onde Débora mostrando-se regenerada, vai se afastando dos protagonistas ao poucos no seu carro, a medida que isso acontece a trilha tensa vai subindo e o olhar dela deixa no ar o mistério sobre sua mudança, afinal não existem milagres na vida real. Aplausos!
Bom, caso eu resolva fazer elogios detalhados a todos os atores que curti, não terá espaço em uma só matéria. Mas quero deixar registrado aqui a importância desse trabalho. Porque por mais que Felicidade vá embora da telinhas, esses personagens tão envolventes não sairão fácil da minha vida.